Lamento dos famintos

SENADOR POMPEU: Lamento dos famintos da Seca à Morte dos Jovens

Da velha HUMAITÁ, e seu “campo de concentração”, no cemitério da Barragem, até os dias atuais, marcado pelas mortes violentas dos jovens pompeuenses, parece o roteiro de uma cena macabra, retratada assim, na poesia de João Cabral: “Esta cova em que estás, com palmos medidas, é a conta menor que tirastes em vida, é a parte que te cabe deste latifúndio”.

O destino dos retirantes, confinados nos “currais de campanha” erguidos pelo governo, na seca de 1932, para barrar o êxodo em massa destes para Fortaleza, se repete hoje de forma velada, por meio da excludência social, que gera, diariamente, rastros de morte morrida, ou morte matada.

Parte expressiva dos seus atuais moradores padece da subalimentação, condição presente nos bairros pobres e periféricos da cidade. Outros são vítimas da violência urbana, oriunda da maior participação dos jovens, ocupando territórios dominados pelo crime organizado.

Esse cenário de dor e mortandade, do passado e do presente, apresenta-se também como resultante do descaso das administrações públicas, em não priorizar e executar políticas voltadas para os excluídos da cidade e do campo, somada à inércia da sociedade civil organizada, ainda distante dos anseios dos mais necessitados, dificultando a superação das inúmeras chagas sociais reproduzidas ao longo de nossa historia.

Da barragem ao alto do cruzeiro, passando pelo pavãozinho, os clamores das famílias e dos seus entes sacrificados, revelam uma realidade cruel, que tem afetado continuamente os mais vulneráveis. Em tempo de pandemia, as populações de baixa renda são os segmentos mais afetados, que seguem injustiçados na repartição dos frutos da riqueza produzida.

Dos antigos flagelados da seca aos que enfrentam a guerra invisível do coronavirus, uma verdade se impõe: precisamos de um estado de proteção social, capaz de conduzir os náufragos desses martírios a um porto seguro, principalmente no mundo que emergirá pós-crises sanitária, econômica, política e social.

Por fim, resta pedir a Deus, lembrando Mahatma Ghandhi, que evoca a paz, o desprendimento, a justiça e a COMPAIXÃO, “que a dor não me seja indiferente, que a morte não me encontre um dia solitário, sem ter feito o que eu queria. Que a injustiça, não me seja indiferente, pois não posso dar a outra face, se já fui machucado brutalmente”.

Marinaldo Braga
Economista